As coisas que sinto....
Tenho ouvido muita coisa nos últimos tempos...tenho lido pesquisado muito...mas há coisas que sempre soube por muito que me dissessem que não seria assim...
Quando um bebé morre, é "normal" ouvir a cada instante: "não tinha de ser" "vocês são novos" "logo logo estarás grávida" "ele ia sofrer" "vocês iam sofrer" "ele morreu de quê"....e fico-me por aqui...esta é sempre a pergunta chave...por curiosidade, para perceber, pela confiança, amizade que se tem....a conversa vai sempre parar ao mesmo é inevitável...tenho a certeza e sei até que muitos pensaram que ele tinha alguma mal formação, porque é sempre assim...é mais fácil...aquele sentimento detestável que é a pena...se tiver uma má formação o assunto morre ali, é uma escapatória, é encontrar uma razão simples porque as coisas acontecem...eu compreendo...
Mas eu sempre soube, intuição de mãe talvez, intuição de mulher... afinal era eu que estava grávida e sempre senti isso, eu sempre soube que o nosso filho era perfeito
Outros dizem de certeza: lá está ela, a escrever, a falar, isto nunca mais há-de acabar...acho que nunca me vou calar, aliás pouca gente me ouve realmente, sem clichés, por isso falo sozinha, escrevo para as paredes, liberto-me...não escrevo para agradar ninguém nem para chocar nem para me fazer de vítima nem porra alguma....escrevo para me libertar do peso que tenho, falo porque preciso, faz-me bem...tudo viverá para sempre em mim...não procuro pena nem comiseração...
O silêncio é inimigo....com isto perdi qualquer filtro que antes tinha...se quero dizer não, digo que não, se não me apetece não me apetece, não me exijo aquilo que não gosto...hoje não quero saber o que pensam, o que julgam, se gostam, se não gostam, realmente é-me indiferente tudo isso. Se este ano não me apetecer fazer o Natal, eu não vou fazer o Natal com estrelinhas e luzinhas e não é por isso que estou a ficar maluca, se não me apetecer estar com ninguém é porque quero estar sossegada no meu canto e não quer dizer que me enfie em casa a berrar em choradeiras...se nao me apetece falar ou estar contigo eu nao vou falar nem estar contigo e não estou a virar anti-social...é apenas um luto, simples assim.
A vergonha que muitas pessoas têm é o que as faz calar, medo de serem julgadas, medo da pena, medo por estarem infelizes e verem os outros felizes, por falarem daquilo que já passou, que correu mal...vergonha disso tudo....
Têm-me chegado muitas confidências, coisas que nunca suspeitei como é obvio, que nunca soube e são muitos os silêncios por aí...as pessoas à nossa volta silenciam-nos...e isso dói muito...
Não quero guardar tudo para mim pois o peso é enorme, partilho com os meus e partilho com quem me queira ouvir ou ler...não espero que me compreendam pois é complicado para mim dizerem que me compreendem quando não passaram pelo mesmo...eu compreendo isso também...mas isto nao é o mesmo luto que se faz por um pai/mae/irmao/tio/sobrinho/avo etc etc....só é igual quando é igual ponto final.
Há sempre tanto a escrever é sempre tudo muito pouco....acredito que há coisas que se podem prevenir mas há outras coisas que têm de acontecer para descobrirmos outras mais...a vida é difícil porque há vários caminhos e depois de escolhermos um ficam todos aqueles outros "ses" ....é inevitável...viver é mesmo isso e por vezes dói assim muito.
Nunca irei saber "se fosse isto se aquilo"...agora é estupido tudo isso...não faz sentido...falo hipoteticamente sobre as coisas mas não sofro com isso...revolto-me com muita coisa...tem-se dias maus....mas resta aceitar e aprender, da pior forma que pode haver sim, mas é bagagem que se leva para o resto da vida...